Polêmica: Encontro entre líderes da Assembleia de Deus Madureira e Lula levanta especulações políticas

Brasília, 17 de outubro de 2025 — O recente encontro no Palácio do Planalto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lideranças da Assembleia de Deus Ministério Madureira, incluindo o bispo Samuel Ferreira, o deputado federal Cezinha de Madureira, e outras autoridades evangélicas, reacendeu debates sobre a natureza política das relações entre igrejas evangélicas, poder público e influência eleitoral.
O que se sabe do encontro
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Lula recebeu os pastores nesta quinta-feira (16) no Planalto. Estavam presentes, além dos líderes religiosos, o advogado-geral da União, Jorge Messias, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o deputado Cezinha de Madureira.
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Na ocasião, houve uma oração pelo presidente e pelo país, e foram entregues ao Lula presentes simbólicos: a Bíblia do Culto do Ministro e uma edição de ouro do Centenário de Glória da Igreja Assembleia de Deus Madureira.
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Cezinha de Madureira afirmou que o encontro foi uma "visita de cortesia", a convite do presidente, e que ele "não veio para pedir nada a ninguém".
As especulações
Apesar das declarações oficiais minimizando intenções explícitas de barganha ou articulação eleitoral, várias circunstâncias alimentaram especulações:
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Indicação para o STF
O advogado-geral da União, Jorge Messias, presente no encontro, é apontado como um dos nomes mais cotados para ocupar a vaga no Supremo Tribunal Federal deixada pela aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso.Algumas lideranças evangélicas teriam interpretado esse encontro como um "aceno" de Lula ao segmento, sugerindo que a indicação de Messias poderia servir também como uma aproximação do governo com evangélicos que historicamente têm votado em candidatos da direita.
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Reaproximação com evangélicos
O Partido dos Trabalhadores (PT) historicamente tem enfrentado dificuldades para conquistar parte significativa do eleitorado evangélico, especialmente alas mais conservadoras. Logo, encontros como este são vistos por analistas como uma estratégia de reaproximação ou minimização de distanciamentos ideológicos percebidos. -
Relacional simbólico vs pragmático
Há um debate: será que o momento serviu apenas para reafirmar respeito mútuo, diálogo e simbologia religiosa, ou existiria um cálculo político com vistas às eleições de 2026 ou à composição do STF? Alguns participantes dizem que "não foi para pedir nada", mas a presença de figuras relevantes já provoca interpretações políticas.
Críticas e dúvidas levantadas
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Alguns críticos afirmam que esse tipo de encontro pode ser interpretado como "uso político da fé", isto é, quando gestores públicos buscam legitimidade religiosa para ampliar apoio eleitoral.
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Outros evangélicos ficam desconfortáveis com a ideia de que igrejas ou lideranças religiosas possam ser vistas como "aliadas políticas" ou instrumentos de transição de poder partidário.
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Também se questiona se haverá consequências práticas desse encontro — por exemplo, em políticas públicas voltadas às igrejas, incentivos, ou na atuação de Messias no STF caso seja indicado.
Possíveis impactos
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Políticos: Se Jorge Messias for realmente indicado ao STF, isso poderá reforçar a percepção de que o governo está buscando consolidar apoio evangélico, inclusive sacrificando posições de independência institucional ou simbólica.
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Religiosos: A Assembleia de Deus Madureira e lideranças impliçadas podem ganhar visibilidade e poder de interlocução, mas também críticas internas, de membros que não aprovam aproximações com o governo.
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Eleições de 2026: O cenário mostra que alianças não são feitas apenas por partidos, mas por redes de influência, imagem, fé e simbologia. O setor evangélico pode ser decisivo em muitos estados.
O que fica em aberto
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O presidente Lula oficialmente manifestou que foi um encontro de fé, diálogo e respeito, sem deteriorar as fronteiras institucionais.
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Não há declaração pública confirmando que o encontro teve como objetivo garantir apoio evangélico em troca de alguma concessão política ou indicação formal.
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Também não se sabe exatamente qual será o impacto prático, se houver, desse encontro no relacionamento entre o governo e o segmento evangélico nos próximos meses.
Conclusão
O encontro entre lideranças da Assembleia de Deus Madureira e Lula mistura fé, simbologia e cenário político. A "cortesia" declarada contrasta com um contexto de especulações — sobre STF, eleição de 2026 e posicionamento dos evangélicos no espectro político. Se por um lado reforça a ideia de que religião e política no Brasil muitas vezes caminham juntas, por outro, evidencia os dilemas de transparência, representatividade e de como as lideranças religiosas se posicionam em meio às disputas de poder.